Dilema do E-commerce. Sabe o que a indústria de eletrônicos, as montadoras e as livrarias têm em comum? Todas passaram pelo mesmo dilema: abraçar ou não o e-commerce como canal de vendas? Agora, ao que parece, é a vez das empresas de beleza buscarem uma resposta para esta pergunta.

O dilema do E-commerce para Natura, Avon e O Boticário

O DILEMA DO E-COMMERCE PARA NATURA, AVON E O BOTICÁRIO
Publicação Original no Época Negócios

Com uma rápida olhada nos números e nas projeções de crescimento, a resposta parece óbvia: “Abraçar, claro!”. Segundo a e-bit, as vendas no comércio eletrônico brasileiro devem atingir R$ 28 bilhões neste ano, superando os R$ 22,5 bilhões faturados em 2012, um crescimento de 24%. Mas a adoção do novo canal tem seus riscos.
Paulo Vicente Alves, professor da Fundação Dom Cabral lembra que o e-commerce não deixa de ser uma nova forma de vendas por catálogo. Mas o problema é que, toda vez que uma empresa abre um novo canal de vendas, precisa rever seu modelo de negócios para não colocar em risco os outros canais.

Pegando as montadoras para exemplificar: como vender carros pela internet sem concorrer com as redes de concessionárias? Ou, no caso das livrarias, como não “matar” o resultado das lojas físicas ou acabar com as obras em papel ao vender livros digitalmente? Pense nos maiores players desses setores e você verá que, de um jeito ou de outro, todos estão vendendo no mundo online.

O Boticário, Avon e Natura

Entre as empresas de beleza no Brasil, O Boticário acaba de lançar uma versão turbinada de seu portal para vendas na internet. Mas, segundo Época NEGÓCIOS apurou com fontes do mercado, a empresa está tendo dificuldades para convencer seus franqueados de que o portal não vai roubar faturamento das lojas físicas. A companhia conta com mais de 900 franqueados e 3.550 pontos de vendas em cerca de 1.700 cidades brasileiras.

“A estratégia de negócios de O Boticário é sempre em parceria com os nossos franqueados”, afirmou Osvaldo Moscon, diretor de Desenvolvimento de Canais e Franchising de O Boticário por meio de e-mail. “Por isso, todas as iniciativas são concretizadas em conjunto com eles, por exemplo, o e-commerce. A presença no comércio online vem da necessidade de estarmos presentes em vários canais e cada vez mais perto do consumidor. E, justamente por isso, o formato de vendas virtual não anula os outros, mas complementa. Afinal, muitos consumidores entram online para conhecer produtos, buscar informações e compram em lojas físicas. Além disso, o diferencial entre os modelos está na experiência – enquanto o e-commerce oferece a praticidade, fácil acesso e outras vantagens no que diz respeito ao consumo, já a vivência e experimentação dos produtos na loja é insubstituível.”

BOTICÁRIO LANÇA LOJA VIRTUAL, MAS PRECISA EXPLICAR A FRANQUEADOS QUE ONLINE NÃO VAI PREJUDICAR VENDAS NAS LOJAS FÍSICAS BOTICÁRIO LANÇA LOJA VIRTUAL, MAS PRECISA EXPLICAR A FRANQUEADOS QUE ONLINE NÃO VAI PREJUDICAR VENDAS NAS LOJAS FÍSICAS

O setor de franquias, modelo de negócios de O Boticário, vem crescendo em ritmo intenso e encerrou 2012 com aumento de 16,2% no faturamento. Ao todo, as redes movimentaram R$ 103,3 bilhões, frente aos mais de R$ 88,8 bilhões de 2011. Já a venda direta, modelo adotado por outras duas gigantes, Avon e Natura, fechou 2011 com um volume de R$ 27,2 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD). Em 2010 foram R$ 25,8 bilhões (os dados de 2012 ainda não foram divulgados).
A venda direta representa um desafio para Avon e Natura, que têm em suas representantes e consultoras a base de seu negócio – e não trabalham com franquias. O e-commerce poderia ser uma saída, não representasse um risco ao principal canal de vendas das companhias.

A Avon, que tem no Brasil uma das suas principais operações em faturamento, mantém um site que funciona como folheto online, no qual é possível criar uma lista e enviar para uma revendedora de preferência, ou encontrar por meio de uma ferramenta com CEP, a representante mais próxima. Comprar e receber em casa, como um bom e tradicional site de e-commerce, não é possível. A empresa lançou, ainda, em outubro do ano passado, um aplicativo para iPad que é, na verdade, um catálogo. Assim como a página da empresa na internet, é possível colocar produtos em uma cesta, mas o pedido final é encaminhado a uma revendedora Avon.
Em comunicado oficial enviado à Época NEGÓCIOS, a empresa afirmou acreditar “que o relacionamento é o principal elo do negócio da venda direta, por isso o e-commerce deve sempre estar associado ao trabalho das revendedoras”. Para bom entendedor, e-commerce sem revendedora, não.

NATURA: REDE SOCIAL DE CONSULTORAS É PILOTO PARA SUBSTITUIR A VENDA ONLINE DIRETA

Com 1,2 milhão de consultoras no Brasil e um total de 1,5 milhão de consultoras no mundo, a Natura mantém uma loja em parceria com o portal Submarino. A página tem uma área onde o internauta pode encontrar uma consultora. Mas quem prefere fazer o pedido e receber em casa, tem essa opção. Chegar até a loja, no entanto, não é tão fácil. O link na página oficial da Natura, por exemplo, direciona o internauta para uma página inexistente. A Natura confirma que não promove a loja online e diz que seu projeto de e-commerce seria a Rede Natura, que está mais para uma rede social, onde o pedido também é efetuado por meio das consultoras da marca.

“Vislumbramos um futuro no qual a relação entre consultoras e consumidores será ainda mais estreita e apoiada por alta tecnologia de informação e pelas redes sociais”, afirmou a Natura, por meio de um comunicado.

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Concorrência que vem de fora

Além do conflito entre os canais de vendas físico e online, as varejistas de beleza no país enfrentam ainda a concorrência com portais de e-commerce estrangeiros. “O volume de vendas ainda é baixo, mas deve aumentar”, avalia Alves. “Tem muita gente querendo vir para cá, onde ainda tem espaço para crescer em vendas. E a forma mais barata de vir, é por meio do e-commerce”.
Um exemplo é a marca de maquiagens Nyx, nascida em Los Angeles, Estados Unidos. No Brasil desde 2007, a empresa possui 25 pontos de venda e lançou no ano passado uma loja online. Os produtos são bastante acessíveis e de boa qualidade, segundo consumidoras que já adotaram a marca. “Lançamos o site para conseguir atender outros estados brasileiros aos quais ainda não chegamos. A ideia foi complementar as vendas das lojas físicas”, afirma Michelle Fortuna, assistente de marketing da Nyx Cosméticos no país.

nyxA ideia da Nyx é complementar as vendas das lojas físicas.

Desatando os nós

Para Alberto Albertin, coordenador do Centro de Tecnologia e Inovação Aplicada da FGV, adotar o e-commerce é uma questão de tempo. “Acho que é um processo inevitável e que tem que ser planejado pra não gerar conflitos”, diz Albertin.
A venda porta a porta, na opinião do professor e consultor, é um canal importante, que teve uma razão de ser e foi um sucesso muito grande. Quem tem a franquia como principal modelo de negócio também deve se preocupar, já que a concorrência da internet não tem fronteira – a web concorre com loja de shopping, de rua etc.

“Quando as empresas abrem outro canal, qualquer um, precisam rever sua estratégia de mercado. E a empresa que vai para a internet… É uma ida sem volta. O consumidor se apropria daquele canal e pronto. Para o franqueado ou para o revendedor é de fato uma concorrência. Daí, é preciso rever a regra porque o modelo de mercado mudou.”

O dilema do E-commerce para Natura, Avon e O BoticárioPara o professor Alves, da Fundação Dom Cabral, a solução é minimizar a concorrência por meio de dois mecanismos. Um deles é o de vender mais caro (ou de cobrar um frete razoavelmente alto) pelo e-commerce para vender apenas aonde o revendedor não chega.
Outra saída é não vender todos os produtos pelo canal de internet, dessa forma, a revendedora ou franquia detém um leque de produtos maior.
Albertin discorda. Para o professor e consultor, não adianta usar estratégias pra minimizar concorrência do e-commerce. “Senão, é uma estratégia de só marcar presença”, diz. “Não é o preço que leva o consumidor à internet. É o outro valor que ele enxerga. Ele está procurando valor agregado, serviço, conveniência de comprar às três horas da manhã, de não querer sair de casa etc.”
A solução, para o especialista, é conseguir uma forma de compensar o canal de vendas físicas (revendedoras ou franquias). “Toda empresa tem que procurar excelência operacional, mas não pode abrir mão de ruptura. Tem que mirar o mais ousado, em um maior prazo. Depois disso, precisa calcular a dose homeopática e caminhar para esse futuro.”

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O blog Profissional de E-commerce foi criado em outubro de 2012 com o objetivo informar e capacitar o mercado de comércio eletrônico no Brasil.

1 Comment

  1. Gostei muito desta modalidade de vendas mais para mim só gostaria de trabalhar na divulgação online via WhatsApp de um link meu para os usuários comprarem de mim. Fico muito tempo divulgando outras coisas e gostaria de um no meu nome para ganhar dinheiro na área da beleza e bem estar também. Deixando mulheres e homens mais bonitas e cheiras(os). Enfim
    Gostaria que alguém me explicasse melhor. Obrigado…!!!

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