Entrevista. Nesta segunda-feira, o Mundo do Marketing publicou uma entrevista com Pedro Guasti falando sobre investidores e o mercado de E-commerce. Destaque para o fechamento das atividades do Carrefour Online (Por que o Carrefour fechou?) e da Shoes4You, clube de assinaturas de sapatos.
Tudo indica que o mercado não está muito amigável para as startups digitais. Fato é que os investidores estão mais rigorosos atrás de resultados. A euforia não passou, porém o mercado parece amadurecido, e mais do que isso, a necessidade é que o negócio rentabilize à curto prazo. Cade o ROI?

Pedro Guasti: Investidores estão mais rigorosos“O Brasil já esteve nesta onda, quando muitas empresas queriam apostar no país para crescer. Hoje muitos entenderam a realidade do nosso mercado, que é extremamente complexo, tem muita interferência do governo, problemas legais, fiscais, e quando se pega uma empresa internacional, o custo Brasil, problemas de infraestrutura e questões tributárias realmente são um obstáculo”

Pedro Guasti é Diretor Geral da E-bit
e Vice Presidente de Inteligência de Mercado do Buscapé Company.

Confira a entrevista completa com Guasti:

Mundo do Marketing: No caso da Shoes4You, os investidores subestimaram realmente o cenário brasileiro ou o e-commerce vai passar por um novo momento no país?
Pedro Guasti: O mercado de e-commerce pode ser separado em empresas que estão testando novos modelos e outras que atuam no varejo mais amplo. No primeiro grupo, enfrenta-se a questão de mudança de hábito do consumidor e também se vai haver aderência do público ao negócio proposto. Isso aconteceu com clubes de compras e compras coletivas.

O modelo da Shoes4You era bastante arrojado, pois envolvia também teste de conceito e teste de produtos. Não é como, por exemplo, uma assinatura de ração de cachorro. Com sapatos, a relação com o consumidor é um pouco diferente, principalmente no caso do público feminino. A mulher quer ver, tocar e experimentar o produto. Era uma aposta e talvez o investidor tenha cansado de colocar dinheiro nesta aposta. Talvez eles não tenham conseguido atingir um número razoável de assinantes ou a rentabilidade estivesse baixa.

Mundo do Marketing: A justificativa para o fechamento é de que uma parcela de 25% dos assinantes não estavam pagando a assinatura, mas por uma questão de falha de comunicação, estas pessoas continuavam a receber os sapatos.
Pedro Guasti: É muito estranho. Talvez eles tenham subestimado a questão do cancelamento, mas o problema operacional é de responsabilidade de quem está à frente desta gestão. É preciso prever este tipo de cancelamento e isso faz parte do modelo de negócios. É assim em qualquer empresa. Não posso afirmar que esta foi a causa, mas é uma possibilidade. Falando de varejo, isso vem acontecendo principalmente para os grandes varejistas que nasceram no offline, mas estão com canais no online. Eles entraram no digital com estratégias muito fortes de aquisição de clientes. O objetivo é trazê-los para a base oferendo parcelamento, frete grátis, compras sem juros e depois se resolve como melhorar a margem.

Este modelo funcionou bem até 2010, 2011, mas a partir daí o mercado entrou em um novo nível de cobrança. A questão era: temos base, temos cliente, mas e o dinheiro? Então podemos dizer que desde 2012, o mercado ficou mais racional com relação a investimentos. Se não há ROI, estes investimentos não são aprovados. Algumas lojas abriram mão de continuar crescendo acima do mercado e passaram a buscar rentabilidade. Crescimento sem rentabilidade não é mais uma alternativa.

Mundo do Marketing: Por conta deste cenário, teremos mais lojas fechando?
Pedro Guasti: Não devemos colocar no mesmo grupo as startups e o varejo tradicional. Para as startups que estão testando novos modelos, é sempre possível um maior índice de fechamento. Mas para as lojas que estão trabalhando com o conceito de omnichannel, a situação é outra. Acho pouco provável que isso aconteça com elas.

Mundo do Marketing: O caso do Carrefour foi isolado?
Pedro Guasti: Sim, este foi um caso a parte. Ele tem um momento internacional de buscar rentabilizar os ativos, aumentar suas margens, lá fora venderam operações e, provavelmente, o seu e-commerce não era rentável ainda. Se olharmos tendências internacionais, o varejo busca a sinergia entre canais.

Mundo do Marketing: A questão do ROI realmente faz com que os investimentos estejam menores devido à situação internacional?
Pedro Guasti: Sim. O dinheiro de fundos e de venture capital está muito mais seletivo. O Brasil já esteve nesta onda, quando muitas empresas queriam apostar no país para crescer. Hoje percebemos que muitos entenderam a realidade do nosso mercado, que é extremamente complexo, tem muita interferência do governo, problemas legais, fiscais e, quando se pega uma empresa internacional, o custo Brasil, problemas de infraestrutura e questões tributárias realmente são um obstáculo.

Mundo do Marketing: Lá fora se consegue operar um e-commerce com uma estrutura menor que no Brasil. Isso procede?
Pedro Guasti: De fato, porque lá há escala. Se pegarmos a Amazon, por exemplo, quase todos os seus processos são automatizados. Mas o investimento se paga porque lá existe escala.

Mundo do Marketing: Em 2011 havia uma euforia no e-commerce. Esta euforia acabou?
Pedro Guasti: Não acabou, mas reduziu a temperatura. Continuam existindo investidores querendo colocar dinheiro em novos negócios, mas a questão é que os fundos buscam negócios mais sustentáveis, diminuiu-se a velocidade destes investimentos e estão mais seletivos e conscientes.

Entrevista realizada por Por Bruno Mello e Bruno Garcia para o Mundo do Marketing.
Author

Branding, Content Marketing e Comunicação. Sou Sócio-fundador do Profissional de E-commerce. Desde nov/2020 lidero o time de Marketing e Comunicação do Golden Square Shopping, da Ancar Ivanhoe. De jun/2019 a set/2020 atuei como Gerente de Marketing e Comunicação na Nox Bitcoin. Destaque para o projeto de conteúdo Investificar. De jan/2018 a jan/2019, liderei os times de Branding (Content Marketing, PR, Social Media e Branding), Product Marketing, área de cursos da Foxbit, fintech de criptomoedas e o projeto e primeiro ano de atuação do Cointimes. Entre ago/2016 e set/2017 atuei como head da área de Marketing da Ebit, empresa Buscapé Company, hoje Nielsen (onde participei do projeto do Webshoppers 39, em mar/2019), referência em informações, certificação de lojas e inteligência de e-commerce. Entre 2012 e 2016, participei ativamente da estruturação da startup Universidade Buscapé Company, entrei na coordenação de treinamentos de E-commerce e Marketing Digital. Lá assumi também a coordenação de Marketing Digital e Conteúdo da Uni Buscapé e do Profissional de E-commerce. Desde 2013, ministro aulas de Marketing de Conteúdo para E-commerce na Faculdade Impacta e em algumas empresas de internet no formato workshop. Você pode encontrar mais informações em meu perfil do LinkedIn ou marcando um café! ;)

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