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Jeff Bezos: o termo “visionário” se encaixa com perfeição

Teimosia, foco no cliente e sobretudo visão de futuro: conheça o que fez e está fazendo Jeff Bezos, um dos empreendedores mais bem sucedidos e admirados dos nossos tempos.

No final de 2011, Brad Stone, autor de “The everything store: Jeff Bezos and the age of Amazon”, foi a Seattle para um primeiro contato com o criador da maior loja online do planeta.

A ideia era pedir a ele a colaboração com o futuro livro, que o próprio Stone considerou uma tentativa de relatar a extraordinária ascensão de uma companhia inovadora, profundamente disruptiva e pioneira, que esteve entre as primeiras a identificar os ilimitados potenciais da internet e que mudou para sempre a forma como compramos e lemos.

Era uma oportunidade e tanto, aquela de conhecer o responsável pela formidável jornada da Amazon. Afinal, Jeff Bezos nunca foi muito dado a isso de aparecer em público. O executivo raramente fala em conferências, e concede entrevistas com a mesma (baixa) frequência.

Stone o encontrou na ampla mesa de uma sala de conferência em um dos vários edifícios modestos que a empresa ocupa próximo a Lake Union, um lago pequeno e quase sempre congelado ao sul de Seattle.

E quando descobriu o motivo da reunião, Jeff Bezos começou a rir com tamanha força que seu interlocutor teve de se proteger das minúsculas gotas de saliva expelidas.

A famosa e extravagante risada de Bezos, que muitos de seus funcionários consideram uma forma de intimidação. Um ex CEO da Amazon até afirma que, ao rir daquela forma virulenta, não sobram dúvidas: “Ele está te punindo”.

Mas Brad Stone não se intimidou. Seguiu adiante com a conversa, que durou cerca de uma hora, e por meio da qual acertaram os detalhes do trabalho que seria feito a seguir.

E logo ali, naquele papo, o autor já ouviu uma das afirmações que considera “jeffismos” (máximas tão significativas que marcam para valer):

SE VOCÊ QUER SABER A VERDADE SOBRE O QUE NOS FAZ DIFERENTES, É ISSO: NÓS SOMOS GENUINAMENTE CLIENTE-CÊNTRICOS, NÓS SOMOS GENUINAMENTE ORIENTADOS A LONGO PRAZO, E NÓS GOSTAMOS GENUINAMENTE DE INVENTAR. MUITAS EMPRESAS NÃO SÃO ASSIM. SÃO FOCADAS NOS CONCORRENTES, MAIS DO QUE NOS CLIENTES.

O maior estava por vir

Isto foi em 2011. Dois anos depois, em 2013, Jeff Bezos fecharia o negócio que o projetaria de vez no mundo – e não apenas dos negócios: a compra, por 250 milhões de dólares, do Washington Post, um dos mais tradicionais jornais norte-americanos.

Foi o movimento mais emblemático do empreendedor após a criação da Amazon, em 1995. Um movimento que deixou clara a monumental dimensão dos planos de Bezos que hoje, aos 51 anos, já responde pela décima quinta maior fortuna do mundo  e por uma trajetória que poderia ser comparada a Henry Ford ou Howard Hughes.

Afinal, com a Amazon, Jeff Bezos estabeleceu-se como um verdadeiro visionário. Ele não apenas redefiniu o conceito de e-commerce e serviços para clientes, como assumiu um papel de minerador de novas tecnologias, que já estão transformando uma série de outras áreas.

A nova geração do Kindle, com uma série de funcionalidades com potencial para redesenhar alguns mercados (leitura, consumo de conteúdo etc), é a prova disso.

Mas quem é o homem por trás daquela risada assustadora e de todas estas façanhas? Quem é Jeff Bezos, e o que as empreitadas dele podem ensinar a você, empreendedor? É o que vamos ver agora.

Um garoto teimoso e de potencial ilimitado

Jeffrey Preston Jorgensen nasceu no Novo México em janeiro de 1964, no seio de uma família bem situada financeiramente.

Da infância, lembra-se sempre dos verões passados na fazenda do avô, cuidando da propriedade. Do avô, aliás, Jeff Bezos afirma ter herdado uma de suas mais famosas características de gestor: a teimosia.

UMA DAS COISAS QUE SE APRENDE COM A VIDA RURAL É A AUTOSSUFICIÊNCIA. AS PESSOAS FAZEM TUDO SOZINHAS. MEU AVÔ ERA UM GRANDE EXEMPLO PRA MIM NESSE ASPECTO: ‘SE ALGO ESTÁ QUEBRADO, VAMOS CONSERTAR’.

Outra particularidade manifestada desde cedo era a capacidade de realização. Como afirma Brad Stone em seu livro, Bezos, quando adolescente, já realizava inúmeras atividades na escola em que estudava, destacando-se em todas.

Tabular estatísticas para a aula de matemática, participar de grupos de leitura, desenvolver projetos para feiras de ciência; não havia praticamente nada que o jovem Bezos não fizesse. “Provavelmente não há limite para o que ele pode fazer, se for minimamente orientado”, afirmou um professor.

O salto do conforto para o escuro

Foram estas mesmas teimosia e capacidade realizadora que impulsionaram Bezos à primeira grande aventura de sua vida. Em 1994, aos 30 anos, ele resolveu largar um confortável cargo de vice-presidente de uma firma em NY para se dirigir à costa oeste, onde começavam a surgir as startups de internet.

Um ano depois, ele montaria a Amazon. Nos primórdios, a empresa funcionava num espaço sem mobília de 500 metros quadrados. Segundo esta matéria da Veja, durante muitos anos o próprio Bezos ajudou a empacotar os itens vendidos –  na época, apenas livros, discos, eletrônicos e brinquedos.

Porém, graças a uma política agressiva de descontos, o negócio deslanchou rápido. O sucesso dos primeiros meses de atividades foi tanto que Jerry Yang, co-fundador do Yahoo!, ligou para Bezos sugerindo que eles colocassem o Amazon.com em uma das páginas do portal.

O empresário aceitou o convite e, após entrarem na lista de um dos sites mais quentes daquela época, as vendas triplicaram. Brad Stone relata sobre uma campainha que tocava a cada vez que um pedido era lançado no site: logo ela se tornou insuportável, e teve de ser desligada.

Para o alto, e (muito) avante

Os próximos capítulos da história foram cada vez mais promissores. Em 1996, Jeff Bezos realizou o IPO da Amazon, com grande sucesso. Em 1999, foi eleito pela revista Time a personalidade do ano.

Em 2001, Bezos aumentou o leque de opções de produtos vendidos pela empresa. Passou a oferecer eletrônicos, artigos esportivos, roupas e até jóias. Três anos depois, a companhia comemorava a venda de 108 milhões de itens durante a temporada de férias.

Em novembro de 2007, Jeff Bezos lançou o gadget que praticamente redesenharia o mercado de e-books: o Kindle. As vendas do dispositivo foram duas vezes acima do esperado e, por isso, em fevereiro de 2009, a empresa apresentou o Kindle 2.

Daí em diante, as novas gerações do aparato só alavancaram os resultados já impressionantes da empresa.

As lições de gestão de Jeff Bezos

Hoje, a Amazon é a maior loja virtual do planeta. E seu criador, o homem de risada excêntrica, é um dos empreendedores mais admirados da atualidade. Mas, quais são as lições que você, empreendedor, pode tirar dessa incrível trajetória?

Esta matéria da Exame traz um precioso apanhado delas. Reunimos algumas que podem ser muito úteis para inspirar sua gestão.

Pés no chão e olhos no futuro: Bezos abriu mão do lucro da Amazon por mais de oito anos para reinvestir tudo no próprio negócio. Desde o início, ele já sabia que não queria simplesmente construir o catálogo mais completo de livros da internet, mas literalmente o maior shopping online do mundo.

Jeff Bezos sempre respondeu que, no longo prazo, a política de preços baixos ajudaria a conquistar a confiança dos consumidores — e o efeito no caixa viria. O tempo provou que ele estava certo.

Encostar a barriga no balcão: Bezos acredita que a Amazon só vai continuar a prosperar se ouvir o que os clientes têm a dizer. E leva isso muito a sério: até hoje, ele mantém o e-mail jeff@amazon.com para receber reclamações. As mais graves são encaminhadas aos executivos da empresa, que têm algumas horas para resolver o problema e responder ao cliente.

Quando o erro é da própria Amazon, o chefe do setor responsável pela falha é convocado a se explicar pessoalmente para Bezos.

CERTA VEZ, UMA CONSUMIDORA ESCREVEU UM E-MAIL ELOGIANDO A AGILIDADE DA ENTREGA, MAS SE LAMENTANDO PORQUE SÓ HAVIA CONSEGUIDO ABRIR A EMBALAGEM DAS COMPRAS COM A AJUDA DO SOBRINHO. O PROCESSO DE EMPACOTAMENTO DAS MERCADORIAS FOI REVISTO.

Sempre de olho na grama do vizinho: Uma das premissas de Bezos é copiar o que está funcionando na concorrência. A filosofia de preço baixo todos os dias, por exemplo, foi inspirada nas campanhas do Walmart, a maior cadeia de supermercados do mundo.

A obsessão pela concorrência é tamanha que Bezos montou um departamento de “inteligência competitiva”. Os funcionários ficam encarregados de comprar grandes volumes de mercadorias em outros sites. Depois, é feita uma avaliação dos serviços em diversos aspectos, como agilidade na entrega, facilidade e velocidade de navegação das páginas. O que for melhor, é imediatamente reproduzido.

Enfim: de forma um tanto abreviada, estas são as informações e as lições deste grande empreendedor dos tempos atuais.

Concorde-se ou não com os métodos (considerados excêntricos) de Jeff Bezos, é inegável que sua trajetória deve servir de referência para qualquer empreendedor. Ou melhor: a julgar pelo estrondoso sucesso do livro de Brad Stone, para qualquer pessoa.

Texto publicado no site da Endeavor Brasil.

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