Algum tempo atrás, um grande amigo que já sabia que eu gostava de fazer uns hacks por aí me procurou, pois a esposa dele viu no mercado a vaga de emprego dos seus sonhos.

Ele queria saber se “dava para fazer algo para ajudar” nessa missão.

Foi a deixa para eu testar uma tática que já vinha estudando há algum tempo, mas até então não tinha tido oportunidade para colocar em prática.

Chamo essa tática de Micro Audience.

É o inverso do que estamos acostumados a pensar em campanhas de performance: ao invés de procurarmos por volume e alcance, o foco deste tipo de campanha são poucas pessoas, ou às vezes apenas uma pessoa.

Vou explicar do início.

Sou um consumidor frenético de conteúdo na internet, principalmente quando se trata de procurar por novas táticas ou hacks. Acompanho diariamente dezenas de sites e blogs de negócios, startups, ferramentas, e-commerce, marketing digital e growth hacking.

Gosto de trabalhar de madrugada e gasto ao menos 2 horas por noite estudando ou pesquisando novidades internet afora.

Desses sites que tiro grande parte de minhas ideias e inspiração para aplicar em meus negócios e dos meus clientes. Costumo dizer para os meus alunos que o melhor professor é uma boa conexão de internet. Com apenas alguns clicks, você encontra praticamente tudo que precisa saber, sobre tudo!

Basta entender como procurar.

Em uma dessas madrugadas de estudo, me deparei com uma das táticas mais interessantes que vi nos últimos anos. O uso de micro audiências para campanhas de performance.

São campanhas com anúncios direcionadas para um público alvo ultra específico, podendo ser tão específico quanto apenas uma pessoa. Isso mesmo.

Uma campanha para impactar uma única pessoa.

Não existe muito material sobre este tipo de tática, meu primeiro contato foi no artigo Pranking My Roommate With Targeted Facebook Ads. Um artigo impagável que conta a história de um amigo trollando seu colega de quarto, que é engolidor de espadas com anúncios super personalizados no Facebook (não me pergunte onde ele conheceu um engolidor de espadas).

Esse material fez bastante sucesso lá fora na época, mas por algum motivo passou despercebido aqui no Brasil.

A criação da campanha com apenas 1 pessoa. (na época era possível, hoje não mais)

O divertido anúncio afirmando como é “irônico ser capaz de engolir espadas, mas engasgar com pequenas pílulas”.

A conversa da vítima com seu melhor(?) amigo, o troll, sem entender como um anúncio pode ser tão bem segmentado assim.

Este foi o anúncio final, onde o amigo comunica ao seu colega de quarto que ele está sendo trollado.

“Já se sentiu como se seu colega de quarto estivesse criando anúncios no Facebook segmentados só para você?”.

Para fechar, o desabafo da vítima após descobrir que estava sendo trollado pelo seu colega de quarto e namorada.

É P I C O !
Algum tempo depois, em outra jornada madrugada adentro, me deparei com este artigo no excelente blog The Hustle, que mostrava com grande nível de detalhamento uma ótima aplicação desta tática.

O artigo mostra como a startup Vungle usou esse mesmo processo para garantir uma vaga em um dos programas de aceleração mais concorridos do Estados Unidos, o AngelPad.

Eles criaram uma campanha no Linkedin direcionada especificamente para o fundador da Angelpad, Thomas Korte. O público era um pequeno grupo de pessoas, todos amigos do alvo em questão.

Abaixo, o anúncio com a foto do Thomas e a pergunta “Conhece Thomas Korte?”

Ao clicar neste anúncio o visitante era direcionado para a landing page abaixo.

Algumas horas depois o pessoal da Vungle recebeu este e-mail:

O fim dessa história? A Vungle conseguiu a vaga no programa de aceleração e garantiu os U$120.000 de investimento que a participação no programa de aceleração garantia!

Nada mal para uma campanha que custou bem menos de U$1,00 não acha?!

Após conhecer estes cases, fiquei com essa tática martelando na minha cabeça durante algum tempo, sem ter a oportunidade de colocá-la em prática até que…

(voltamos à história do começo deste artigo)

Esse meu amigo, já ciente das minhas experiências com growth hacking (ensino essa e outras táticas em meu curso Ecommerce Hacks) me ligou e disse “minha esposa está interessada em uma vaga para o seu emprego dos sonhos. Pode a ajudar a conseguir essa entrevista e ainda fazer com que ela fique bem na foto em relação aos outros candidatos?”

Pronto!

Essa era a oportunidade ideal para finalmente testar a tática de Micro Audience. E foi o que eu e meu amigo combinamos.

Para começar, fizemos uma bela pesquisa para saber quem era a pessoa que estava fazendo o processo de recrutamento. Não demorou muito e tínhamos o nome e o cargo desta pessoa em mãos. Como? Usando o Google e o Linkedin.

Conseguimos até a encontrar o e-mail dela usando o E-mail Hunter (assunto para outro artigo), mas estávamos empenhados em colocar a tática de micro audiências em prática, por isso evitamos enviar um e-mail para o recrutador. Isso seria muito trivial e não iria gerar o impacto que estávamos procurando.

O passo seguinte foi montar a estratégia de ataque.

A ideia inicial era rodar a campanha no Linkedin, mas achamos melhor fazer no Facebook, já que não tínhamos muito tempo disponível e já tínhamos nossa conta de ads no FB ativa.

Seguimos por este caminho, Facebook Ads.

A estratégia não era complexa, pelo contrário, criamos uma campanha com segmentações de público alvo bem específicas como:

  • pessoas que trabalham na empresa do recrutador
  • pessoas que trabalham na empresa do recrutador na região geográfica da unidade que ele trabalha

Simulei o processo e fiz alguns prints para mostrar como foi feito.

Primeiro, a segmentação geográfica. Digamos que a empresa estivesse localizada na Avenida das Américas na Barra da Tijuca, RJ.

No caso real colocamos exatamente o endereço de onde o recrutador trabalhava. Para ficar mais preciso e restrito, diminuímos o alcance ao mínimo para apenas 1km.

Depois segmentamos pela empresa empregadora. Só pessoas que explicitamente se declararam funcionárias.

Com essa segmentação, o alcance é bem reduzido, menos de 200 pessoas (como pode ser visto abaixo).

Para a maioria das campanhas de performance tradicionais, esse universo é restrito demais, mas não para o nosso objetivo… Pelo contrário.

Com a segmentação feita, era a hora de preparar o anúncio.

Para causar o maior impacto possível, colocamos em destaque a foto do recrutador (aqui devidamente editada por questões óbvias) com uma grande seta apontando para seu rosto. Algo que realmente chamaria a atenção de quem o conhecesse.

Ao clicar nesse anúncio, o visitante era direcionado para uma landing page, criada utilizando o período de teste gratuito do Instapage, ferramenta de landing pages, onde a candidata em questão, explicava porque era a melhor escolha para a vaga.

Com tudo pronto, estava na hora de finalmente ativar a campanha.

Foi engraçado, pois estávamos ansiosos, colocamos no ar a campanha e pensamos entre a gente “e agora?!? será que funciona?”.

A resposta veio mais rápido do que imaginávamos e nos surpreendeu!

Menos de 30 minutos depois da ativação da campanha, a candidata recebeu uma mensagem do recrutador em seu Facebook. Ele a parabenizou pela iniciativa, que impressionou sua chefa, e, o principal: a convidou para a entrevista!

WOW!

Criamos uma campanha super eficiente, que gerou o resultado pretendido em menos de 30 minutos e custou menos que um cafezinho na padaria da esquina!

O nosso objetivo com esta campanha era fazer com que a candidata fosse convidada para a entrevista e foi exatamente o que aconteceu. Não só ela foi convidada para a entrevista como chegou lá em grande estilo.

Até a “chefa” do recrutador ficou impressionada.

Isso não tem preço.

Um ponto engraçado é que o recrutador achou que o anúncio tinha sido publicado “pelos facebook tudo”, mas mal sabia ele que, na verdade, menos de 80 pessoas o tinham visto. Para ser mais preciso o anúncio atingiu 77 pessoas, teve 4 clicks e custou R$2,02.

#orgulho

Ela foi contratada?

Não!

Mas por uma boa justificativa 😉

Ela foi sim convidada para a vaga(!), mas, antes mesmo dela aceitar a oferta, ela participou de uma outra entrevista, para um cargo acima do que pretendia ocupar e lá contou ao recrutador toda essa estratégia descrita neste artigo.

Ele ficou louco com a história e cobriu a oferta do “emprego dos sonhos” que ela havia sido chamada.

E foi para esse outro emprego que ela foi.

Isso que eu chamo de um final feliz.

Micro Audiences é uma tática simples e barata, mas extremamente poderosa, que pode ser usada para inúmeras objetivos, como:

  • chamar a atenção de investidores para sua startup;
  • trazer clientes chave para seu produto ou serviço;
  • impressionar influenciadores;
  • conseguir o emprego dos seus sonhos.

Agora que você já sabe como funciona, basta usar sua criatividade. Imagina as possibilidades de aplicação desse tipo de campanha? Imaginou?

Então não perca tempo e boa sorte!

Artigo publicado originalmente no blog da SEMRush Brasil.

Author

Empreendedor com mais de 15 anos de experiência em projetos digitais, palestrante e professor de e-commerce, marketing digital e growth hacking.

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