O pessoal da empresa portuguesa Shiptimize, plataforma online de gestão de envios, me convidou para tentar explicar um pouco sobre o perfil do profissional de e-commerce brasileiro.

Aceitei e convidei o Thiago Borba, profissional brasileiro que fez sucesso em várias empresas daqui, e hoje, atua no mercado português. Fizemos um paralelo entre os mercados e o resultado está abaixo. Espero que goste!

Acompanho a evolução do mercado de e-commerce no Brasil desde 2012. O principal desafio de comunicação era passar confiança ao consumidor de que era seguro fazer uma compra online, que os riscos eram baixos e as vantagens da compra online eram muito maiores que os problemas.

Gráfico retirado do Webshoppers 39 – Copyright © 2019 The Nielsen Company (US), LLC, All Rights Reserved.
Gráfico retirado do Webshoppers 39 – Copyright © 2019 The Nielsen Company (US), LLC, All Rights Reserved.

Hoje o cenário é bem diferente, temos um consumidor altamente conectado, consciente de suas possibilidades e com muitas opções. O marketplace cresceu e muitas vezes não diferencia vendedores dentro de um mesmo site, não de uma forma que faça tanta diferença para o consumidor.

Que se mantém em busca de preço, ainda o maior decisor de compra, mas também de uma experiência agradável e simples.

Leia mais sobre o consumidor brasileiro: 

Quem é o consumidor do e-commerce no Brasil?

Estamos falando de um dos únicos segmentos do Brasil que, mesmo com os problemas na economia, mantém crescimento. Isso acontece por inúmeros motivos. Entre eles a própria crise política/econômica brasileira, que acabou lançando ao mercado milhares de profissionais desempregados, o e-commerce acaba como uma saída para obter renda.

Muitos ainda vão descobrir que talvez esta não seja a melhor saída, afinal empreender no Brasil não é para qualquer um.

Abrir um e-commerce é uma saída para o Desemprego?

Problemas comuns para os brasileiros

O empreendedor de e-commerce brasileiro ainda enfrenta problemas bem particulares. A logística se mantém no topo da lista há muitos anos. Nosso país tem dimensões continentais, o que gera diferentes questões.

Os problemas para empreendedores, profissionais e consumidores acabam se misturando. São leis “que não pegam”, tributação complexa e às vezes até bitributação, ambiente extremamente instável que acaba gerando uma grande necessidade de improviso.

O brasileiro ainda sofre com inúmeros problemas econômicos, estruturais e na sociedade que acabam limitando esse franco crescimento do setor. Barreiras logísticas também são um problema, é impensável e fora da realidade das grandes cidades, mas já imaginou morar em uma região que grandes lojas não entregam?

É uma situação muito mais comum do que você imagina fora dos grandes centros. E muito mais do que não entregar, os problemas são maiores, como educação, inclusão digital e conectividade.

Segundo o Webshoppers 3941% dos brasileiros ainda afirmam ter conexão instável para realizar compras online. Quase um terço, ainda não possui um smartphone. No interior de São Paulo mesmo, é comum encontrar cidades pequenas que tem problemas com sinal de celular, ou em locais mais afastados que nem serviços de conexão estão disponíveis.

Gráfico retirado do Webshoppers 39 – Copyright © 2019 The Nielsen Company (US), LLC, All Rights Reserved.
Gráfico retirado do Webshoppers 39 – Copyright © 2019 The Nielsen Company (US), LLC, All Rights Reserved.

Essa desigualdade é bem expressiva no país, enquanto uma cidade como São Paulo proporciona hábitos modernos com a facilidade da economia compartilhada, com serviços online que fazem as compras no supermercado, bicicletas e patinetes compartilhados, Uber e outras inúmeras facilidades atuais, temos no mesmo país cidades que nem os Correios entregam produtosNo Brasil temos cidades em 2020 e outras em 1994. 

Estes aspectos estão diretamente ligados à concentração das empresas do setor. Que ficam, em sua maioria, nas regiões Sudeste e Sul do país, que contam com 60% de todas as vendas online.

Pesquisa Profissional de E-commerce

Segundo a última Pesquisa Profissional de E-commerce, o profissional que trabalha com e-commerce no Brasil tem em média 37 anos e 67% são homens com uma renda média de R$ 5.538,70. A distribuição física é exatamente a citada:

Pesquisa Profissional de E-commerce 2017
Pesquisa Profissional de E-commerce 2017

A concentração de empresas fica pela região economicamente mais forte do país, logo a oferta de oportunidades segue a regra.

Uma reclamação constante dos recrutadores que vimos ao longo dos anos na pesquisa, é a falta de preparo dos candidatos. A especialização ainda é uma barreira:

Pesquisa Profissional de E-commerce 2017
Pesquisa Profissional de E-commerce 2017

Aprofundando um pouco sobre esta questão do despreparo, perguntamos sobre quais eram as habilidades mais procuradas nos profissionais para trabalhar com e-commerce.

Marketing digitalatendimento ao cliente e ferramentas de analytics são as mais procuradas, veja todas as respostas:

Pesquisa Profissional de E-commerce 2017
Pesquisa Profissional de E-commerce 2017

Brasil vs Portugal

Para entendermos melhor como algumas particularidades são brasileiras, encontrei uma maneira de comparar nosso mercado com o mercado de um país europeu, que conta com aspectos semelhantes aos nossos e outros completamente diferentes.

Conversei com o Thiago Borba, profissional com mais de 10 anos de experiência nas áreas de e-commerce e marketplace. No Brasil, atuou em grandes varejistas mundiais como o Walmart, Groupon e B2W. No mercado europeu desde o início de 2018, atuou nas empresas portuguesas como o KuantoKusta e mais recentemente no Dott.pt.

Profissional conhecido do mercado brasileiro, o Thiago tem contribuído com o amadurecimento do mercado de e-commerce de Portugal atuando como professor e mentor.

Thiago Borba

Diferenças de mercado e consumidores entre Brasil e Portugal

A primeira coisa que precisamos ter em mente ao avaliar a diferença entre Brasil e Portugal é a diferença geográfica. São mais de 200 milhões de habitantes no Brasil vs 10 milhões de habitantes em Portugal, uma população menor do que diversas cidades brasileiras, menor que São Paulo, por exemplo. Desses 10 milhões, por mais que 80% tenham acesso à internet, aproximadamente 63% nunca comprou online.

É um mercado restrito, com uma população relativamente pequena e com hábitos já bem estabelecidos. O mercado brasileiro cresceu muito espelhado no mercado dos Estados Unidos, até mesmo por empresas em comum, como Walmart, ou a própria B2W, que utilizou o mercado como benchmarking.

O modelo brasileiro é muito semelhante ao americano com metas, processos, KPIs, crescimento acelerado… O que já traz uma diferença grande para Portugal, que não tem este mesmo senso de urgência. Os portugueses têm um trato muito mais suave com o dia a dia. Conseguem equilibrar muito melhor sua rotina com carga de trabalho, é um modo de vida mais tranquilo.

O consumidor português está muito acostumado a comprar de empresas de fora do país, como Alibaba e Amazon Espanha, por exemplo. Coisa de um dois anos para cá, os sites portugueses começaram a ter uma importância maior, como a Worten, por exemplo.

Isso faz com que não existam tantos grandes “retalistas” (varejistas) no mercado como no Brasil. Quando olha-se para os nichos então, como de esporte, não há concorrência, geralmente só existe um player.

O consumidor de Portugal também é muito menos exigente. Muito menos crítico que o brasileiro, que tem a fama de reclamar de tudo.

Mercado português

O nível de qualidade de atendimento também é muito bom, talvez até por tamanho de demanda. É comum uma entrega em dois dias, por exemplo. Outro ponto é uma recorrência muito menor de fraudes, extravios de produto ou qualquer questão deste nível.

A limitação geográfica gera algo muito interessante. É muito comum o intercâmbio cultural. Pelo país ser muito pequeno, é comum buscar referências externas.

Agências e outras empresas de serviços relacionados com e-commerce são frequentemente buscadas para auxiliar as operações. Assim como no Brasil se contrata ferramentas americanas, por exemplo, em Portugal é comum contratar serviços de empresas italianas, inglesas, francesas… Mercados mais maduros que ajudam a fomentar o digital português.

Em decorrência disso, não é raro se pedir fluência em inglês, francês e até alemão logo na entrada de profissionais na empresa com cargos baixos até, como analistas. Porém, essa diversidade de culturas e línguas é muito mais comum na cultura dos países europeus.

O mercado português vê como horizonte os países vizinhos e até mesmo tornar de Lisboa um “Vale do Silício” semelhante ao que ocorreu em Dublin um tempo atrás. É muito mais fácil encontrar profissionais que falam muito bem inglês, por exemplo. Já no Brasil é muito mais comum olhar para o mercado interno, que é muito mais forte e ainda conta com espaço para expansão.

Condições de trabalho

Quando falamos em condições de trabalho, não é raro encontrar empresas relevantes, com anos de atuação no mercado, com apenas 30, 40 pessoas. Por exemplo o KuantoKusta, o maior comparador de preços de Portugal, com 14 anos de operação, um dos sites mais acessados do país e apenas 30 funcionários. Algo impensável num Buscapé, líder brasileiro por muito anos.

E isto não é uma exceção, é algo comum entre grandes empresas. São relações muito mais próximas, familiares, as pessoas geralmente se conhecem da vida pessoal. Amigos, conhecidos, familiares são muito mais recorrentes do que no Brasil, que procura ter um relacionamento muito mais “profissional” e competitivo, muitas vezes até hostil.

O que vem por aí

O amadurecimento do mercado português já está acontecendo. A entrada dos estrangeiros no mercado têm acelerado essa organização de metas, processos. Um mercado que parece o brasileiro de 10 anos atrás, mas que conta com uma estrutura para uma equiparação de crescimento em muito menos tempo.

Algo que digo muito nas minhas palestras, a história do português que foi para o Oceano sem saber o que encontraria além do horizonte e veio para no Brasil, na América do Sul.

Essa oportunidade do Digital, possibilidades de crescimento acelerado e mistura de culturas e a necessidade de acompanhar a evolução do mundo e do resto da Europa. O digital vai precisar reencontrar o português explorador, corajoso, que precisa de reinventar e acompanhar a digitalização das pessoas e seguir o crescimento da sociedade.

Texto publicado anteriormente no blog da Shiptimize.

Author

Branding, Content Marketing e Comunicação. Sou Sócio-fundador do Profissional de E-commerce. Desde nov/2020 lidero o time de Marketing e Comunicação do Golden Square Shopping, da Ancar Ivanhoe. De jun/2019 a set/2020 atuei como Gerente de Marketing e Comunicação na Nox Bitcoin. Destaque para o projeto de conteúdo Investificar. De jan/2018 a jan/2019, liderei os times de Branding (Content Marketing, PR, Social Media e Branding), Product Marketing, área de cursos da Foxbit, fintech de criptomoedas e o projeto e primeiro ano de atuação do Cointimes. Entre ago/2016 e set/2017 atuei como head da área de Marketing da Ebit, empresa Buscapé Company, hoje Nielsen (onde participei do projeto do Webshoppers 39, em mar/2019), referência em informações, certificação de lojas e inteligência de e-commerce. Entre 2012 e 2016, participei ativamente da estruturação da startup Universidade Buscapé Company, entrei na coordenação de treinamentos de E-commerce e Marketing Digital. Lá assumi também a coordenação de Marketing Digital e Conteúdo da Uni Buscapé e do Profissional de E-commerce. Desde 2013, ministro aulas de Marketing de Conteúdo para E-commerce na Faculdade Impacta e em algumas empresas de internet no formato workshop. Você pode encontrar mais informações em meu perfil do LinkedIn ou marcando um café! ;)

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